Do verbo parir

A maternidade nos transforma. É ao mesmo tempo um enorme clichê e uma imensa verdade. Leio alguns posts antigos do blog e chego a não me reconhecer. Percebo textos marcados pelo conformismo e pela falta de informação.

Por isso que reafirmo que o nascimento da Clara representou o meu renascimento materno. Uma vontade forte de viver a chegada de um filho mais uma vez, mas agora diante de um novo posicionamento. Com mais paixão e entrega à maternidade. Mais intensidade.

E assim que busquei meu caminho para um parto diferente. O do Vítor foi normal, mas com diversas interferências que nunca tinha ousado questionar. Tricotomia, lavagem intestinal, fórceps e episiotomia. Um monte de palavra feia colocada diante de mim como “rotina”. Tudo devidamente aceito simplesmente por eu jamais ter pensado que faria diferença. E fez. Muita.

Fez diferença quando eu me dei conta que entreguei meu primeiro parto para o fórceps. Hoje consigo perceber que faltou justamente o que procuro agora: entrega. Desde a gravidez eu não conseguia me entregar ao fato de que seria mãe (por N motivos). Não que eu não estivesse feliz, porém faltava uma série de coisas para que talvez eu me sentisse mais segura (fatores emocionais e práticos mesmo, como estabilidade financeira). Sem dúvida, isso tudo teve influência no parto do Vítor e no modo como eu vivi aquele momento.

***

Depois de refletir sobre as marcas que ficaram da minha primeira experiência surgiu a vontade e a necessidade de fazer diferente. Assim, busquei informação, questionei, fui atrás. Tenho que destacar que minha médica (a mesma que acompanhou a gravidez e o nascimento do Vítor) entendeu minha nova posição e foi uma grande parceira durante todo processo.

***

E então… vamos ao parto da Clara.

Eu estava grávida de 39 semanas, mas desde a 37ª preparada para o “qualquer hora”, pois tinha 7 centímetros de dilatação.

No feriado de 7 de setembro o Vítor acordou um pouco antes das 10h e veio para nossa cama. Ficamos em família, curtindo a preguiça. Planejamos o que faríamos durante o dia. Depois, nos arrumamos e fomos dar uma volta com o Dexter.

Durante a caminhada comecei a sentir um pouco de dor. Passamos na frente do hospital e o Fábio até brincou que eu já podia ficar por ali mesmo. Seguimos enquanto a dor aumentava. Comentei que a gente deveria ir um pouco mais rápido, para conseguir chegar logo em casa.

Quando chegamos eu disse que ia falar a médica. Ela não atendeu o celular e liguei para o número residencial. O marido disse que ela estava no hospital. Conversei com o Fábio e resolvemos ir direto para lá. Arrumei as coisas do Vítor e minha mãe o buscou.

Enquanto eu ia de um lado para o outro só pensava: “Minha filha vai nascer”. Era nisso que eu queria focar, sem pensar em dor ou qualquer outra coisa. Fui para o banheiro e ficava me contorcendo entre uma contração e outra. Fábio levou as bolsas para o carro e fomos para o hospital.

Na recepção do hospital demoraram para nos atender. Eu estava impaciente e disse para o Fábio que ia subir para a maternidade sozinha (a louca!). Abri a porta e segui até o elevador, gemendo. Como não sabia em que andar era o centro obstétrico, apertei em todos os botões. Pelo caminho dois enfermeiros me acharam e seguiram comigo até o lugar certo.

Quando fui para a sala de pré-parto a bolsa rompeu. Uma enfermeira me ajudou a deitar e fez um toque: 10 centímetros. Correria e mudança de sala. Antes de sentar na cama senti vontade de fazer força (e fiz). Uma enfermeira veio e colocou a mão embaixo das minhas pernas, como se tivesse medo que o bebê fosse cair ali mesmo.

Fiquei semi-sentada na cama e uma médica conhecida que estava na maternidade para ver uma paciente começou a se preparar para o parto, pois a minha obstetra estava no centro cirúrgico. Fui fazendo o que meu corpo mandava, sem pensar, me entregando ao momento.

Minha médica chegou e lembro de ter perguntado pelo Fábio. Uma enfermeira avisou que ele estava subindo. Pena que não deu tempo dele chegar. Clara nasceu ali, no terceiro empurrão que eu fiz. Deslizou do meu corpo para a vida através da minha própria força. Senti cada pedacinho dela saindo. Uma sensação incrível, que não tive no parto do Vítor e jamais vou esquecer.

Foi tudo muito rápido e intenso. Assim que ela nasceu, veio para meu colo e a coloquei no seio. Sugou com força enquanto procurava com o olhar o meu rosto. Fábio chegou e compartilhou com a gente aquele momento de paz, de plenitude. E do mesmo jeito seguimos… vivendo toda entrega que a maternidade e a paternidade nos exige, de uma forma tão natural e apaixonante quanto naquele dia. Única.

18 ideias sobre “Do verbo parir

  1. janaina

    Nossa Ananda,é o parto dos sonhos!!!!!!!!!!! O do Lorenzo foi tão traumático,tão difícil que estava decidida a não ter mais filhos,mas com fé em Deus engravidamos de novo,acreditando que dessa vez será diferente.E agora lendo esse relato meu coração se encheu de esperança e certeza de que teremos um parto maravilhoso.Parabéns mais uma vez,lindo e emocionante o texto.Beijos pra vcs e tudo de bom!!!!

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  2. Angi

    QUE LINDOOOOO!
    Morri chorando e pensando nesse momento lindo!
    PARABÉNS por tudo, muita saúde para ti e para Clara!
    Beijos

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  3. Ilana

    Que lindo Ananda!!! Maravilha parir assim!
    Fiquei toda emocionada aqui! (e com uma pontinha de inveja, dada minha recentíssima cesárea não desejada e plenamente odiada).
    Beijo procê e pra Clara

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  4. Mamãe do Otávio

    Totalmente diferente do relato de parto do Vítor, deu pra ver que tu amadureceu em todos os sentidos. Lindo, muito lindo, e muito emocionante, enche qualquer mãe/futura mãe de esperança. Quero engravidar, e quero um parto normal-humano igual!
    beijos em vcssssssssss

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  5. Lílly

    Ananda! que liindoo
    to emocionada aqui!
    Experiência unica e indescritível.. Espero que daqui a 8 meses meu parto seja tão mágico como o seu!
    Beijo

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  6. Jacqueline Braga

    Ananda
    que lindo seu relato
    fiquei aqui emocionada, cheia de lágrimas nos olhos.
    Eu quero tanto um parto assim, chegar já parindo, e não focar na dor, e sim no momento em que verei minha filha!!
    Parabéns!!!!

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  7. Cris

    Ai Ananda, que linda essa história de parto! A poucas semanas de nascer meu filho, é um incentivo e tanto, queria muito uma história parecida, um parto rápido, sem intervenções, com foco total no meu bebê e não na dor. Será que consigo?
    Bjos e parabéns pelos filhotes!

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  9. Helena Jungblut

    Ananda, amada! 🙂
    não há muito o que falar, perto de tanta grandiosidade! só destaco a parte que fez meus braços se arrepiarem “Deslizou do meu corpo para a vida através da minha própria força.”
    lindo!
    grande abraço!

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