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O conto do leite artificial

A mãe chega em casa da maternidade, depois de ter passado por uma das experiências mais intensas da sua vida, que é o nascimento de um filho. Ela tem um bebê nos braços e nem sabe o que fazer direito. Ele dorme, sereno. Ela olha ao seu redor e tudo parece diferente. De fato, sua vida inteira mudou e ela nem imagina como.

Os primeiros dias são como um verdadeiro soco no estômago da barriga ainda inchada e flácida do pós-parto. Entre o êxtase de descobrir as fofuras das diferentes expressões faciais de um pequeno e apaixonante ser com um pouco mais de 3 quilos, o drama da nova posição ocupada. De mulher a mãe. De vez em quando, de menina a mãe. Uma verdadeira revolução interna, ainda mais intensa pelas noites sem dormir, a falta de tempo para si e o isolamento social.

Como num passe de mágica, o calmo bebê que só dormia começa a chorar. E como chora! Os berros invadem os silêncios que ajudavam a manter a ordem na mente de caos.

Tudo isso, somado ao peitos doloridos de tanto leite, o coração inundando de amor e a cabeça repleta de dúvidas gera muita insegurança. Medo de fazer errado. Receio de não saber como agir.

Assim, a mãe fica frágil e os comentários alheios vão penetrando no seu território de incertezas. “É fome, mãezinha”. “Essa criança só mama”. “Isso não pode ser normal”. “O que o pediatra disse?”.

A mãe é totalmente desacreditada e o poder é direcionado ao médico, entidade divina reverenciada na sociedade contemporânea. O choro do bebê não pode ser expressão, descoberta, vontade de ficar perto da mãe. Busca-se explicação médica ou científica para o que, muitas vezes, pode ser uma simples manifestação de existência.

O bebê clama: “Mãe, eu estou aqui e preciso de você”. Tentam calar o pequeno com chupeta e remédios preventivos sem explicação. “Toma aqui umas gotinhas, bebê. É para não ter reação à vacina”. Isso antes mesmo da injeção ser feita e do corpo se manifestar. “Deve ser cólica, toma aqui mais umas gotinhas para dor de barriga”. Horas depois a inquietação continua. “Só pode ser fome”, comenta alguém.

Pronto, o estrago está feito. Qualquer coisa vai virar desculpa para entupir a criança de leite artificial na mamadeira. Não ganhou peso uma semana? Mamadeira. Não dorme bem? Mamadeira. Chora? Mamadeira.

“Mãezinha, o leite do teu peito é fraco”. Fraca é a sociedade maluca em que vivemos, onde mesmo as mães que querem amamentar são minadas. As situações as empurram para a porta de saída, para o conto do leite artificial. “Bebê vai ficar calminho, de barriga cheia. Vai crescer forte, saudável e vai dormir a noite inteira”. AHAM. Vai nessa!

Por isso eu digo: acredite em si mesma. Acredite no corpo e no poder de nutrir o próprio filho. Aceite a entrega que a maternidade exige e seja responsável pelas próprias escolhas.

Insista. Tente de novo. Informe-se. A amamentação, em muitos casos, só depende de você.

* Entendo que em alguns casos a mãe de fato precisa dar leite artificial para os filhos.
** O objetivo do texto não é fazer julgamentos, mas propor uma reflexão sobre a falta de incentivo à amamentação e sobre a sociedade em que vivemos, onde é reproduzida a ideia de que bebês precisam ser independentes e é valorizado o culto exagerado ao progresso (é proibido sentir dor, angústia ou qualquer coisa do gênero, para tudo existe uma solução avançada – cesárea para o parto, leite artificial para a amamentação, remédio para o desconforto).
*** Não tenho problema nenhum com médicos, mas penso que também é nosso dever buscar informação e questionar, quando pertinente, não apenas ficar em uma posição passiva de reprodução de frases como “mas o médico mandou”, “o médico disse para fazer assim”, “eu confio no meu médico”. Além disso, como em todas as áreas profissionais, existem médicos bons e outros nem tanto.

O que eu diria para uma grávida sobre parto

Eu diria que o parto ensina uma verdade constante da maternidade: a gente não controla nada.

No parto a gente não controla a mente, o corpo, a dor. A gente sente e age. É só emoção, nada de razão. É intensidade, é explosão. É amor.

Na maternidade a gente não controla as doenças, os acidentes, os perigos externos, as descobertas. A gente sente e age (ou reage). É muita emoção, embora de vez em quando a gente tente agir com a razão. É intensidade, é explosão. É amor.

Sendo assim, deixar o parto acontecer de forma natural é entregar, de coração aberto, o controle. É aceitar que dali em diante a vida ganha outro rumo, um caminho totalmente novo, cheio de surpresas.

Mas aceitar perder o controle não é fácil (e por isso, talvez, muitas mulheres optam por entregar seu parto para o médico e escolhem fazer uma cesárea). Exige perceber nosso corpo e nossa origem: somos animais, mamíferos.

Para alguns, parto é “feio”, pois envolve sangue, fezes, urina. Justamente por isso, penso eu, um “bom” parto (bom no sentido de ser algo visto positivamente pela mãe, como um momento realmente especial na sua plenitude, como processo completo, não só pelo nascimento do bebê) depende do quanto a mulher é capaz de se desprender de todo o resto e se conectar com o próprio corpo.

Não é fácil também pelo fator desconhecido. Pode acontecer qualquer dia, qualquer hora, começar em qualquer lugar. Tem gente que simplesmente não consegue lidar com isso, seja por medo, insegurança ou outro motivo.

Enfim, o que eu diria para uma grávida é que o parto é algo único e que merece ser vivido na sua totalidade. Não pode existir sensação melhor do que um filho saindo do ventre para o mundo. Até hoje, consigo fechar os olhos e reviver aquele segundo de silêncio entre um gemido e um choro. Um segundo de concretização de todo amor possível.

Por isso, eu diria: permita-se. Entregue-se à maternidade antes mesmo do seu filho nascer. Não deixer de viver algo tão intenso. Sublime.

Ocitocina, baby

Ocitocina, baby

Leia também: Do verbo parir

Mídia, espetáculo do real e o 12/12/12

Hoje, não muito surpresa, acompanhei umas quatro ou cinco reportagens em diferentes meios de comunicação sobre o boom de nascimentos agendados para 12/12/12. Todos os materiais que vi, tanto em sites quanto nos canais de televisão, tiveram a mesma abordagem. Trataram o aumento das cesáreas e ouviram mães com argumentos como “é uma data legal”, “representa sorte” e até algo do tipo “é fácil de lembrar”.

Como jornalista, fico impressionada com a falta de preocupação em mostrar o “outro lado”. Não vi destaque em pautas relatando o nascimento de um bebê através de parto normal. Vão me dizer que nenhuma criança nasceu “voluntariamente” hoje?

Outra possibilidade seria mostrar o grande número de cesáreas, mas entrevistar um profissional ponderando os riscos de um nascimento agendado. Como um alerta, uma informação de verdadeiro interesse público.

No entanto, em um país com índice de cesarianas muito acima do indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) – que é de 15% – a notícia do boom passa batido para a maioria das pessoas. Afinal, a mídia é um reflexo da cultura e da sociedade e na contemporaneidade o procedimento já está internalizado na mente do grande público. De tal modo, nada mais natural do que tratar como espetáculo a cesárea e prestar um desserviço dando audiência para mães alienadas e médicos omissos.

É um desserviço uma vez que os brasileiros acreditam mais na mídia do que no governo, segundo pesquisa da agência de notícias Reuters, divulgada no artigo “A construção do real no telejornalismo: do lugar de segurança ao lugar de referência”, de Alfredo Eurico Vizeu Pereira Junior e João Carlos Correia. Segundo os autores, os resultados do estudo reforçam a importância de um olhar mais atento sobre o jornalismo, pois os conteúdos veiculados “contribuem diariamente, de forma relevante, para a construção de parte da realidade social da realidade brasileira”. Além disso, os pesquisadores ressaltam: “A imagem que a mídia constrói da realidade é resultado de uma atividade profissional de mediação vinculada a uma organização que se dedica basicamente a interpretar a realidade social e mediar os que fazem parte do espetáculo mundano e o público”.

Ou seja, é uma via de duas mãos. A mídia reflete os valores sociais e as pessoas legitimam através dos meios de comunicação determinados conceitos ou certas realidades.

Assim, as reportagens sobre os nascimentos no 12/12/12 simplesmente reforçam o que já sabemos: a cultura da cesárea tá aí, não dá para negar. Agora, eu pergunto: mas dá para mudar?

Penso que sim. Eu quero acreditar que sim.

Enquanto isso, faço a minha parte, como jornalista, como mãe e como pessoa preocupada com o respeito ao nascimento e à criança. O que está ao meu alcance é refletir, discutir e informar. E isso eu vou fazer sempre.

Do verbo parir

A maternidade nos transforma. É ao mesmo tempo um enorme clichê e uma imensa verdade. Leio alguns posts antigos do blog e chego a não me reconhecer. Percebo textos marcados pelo conformismo e pela falta de informação.

Por isso que reafirmo que o nascimento da Clara representou o meu renascimento materno. Uma vontade forte de viver a chegada de um filho mais uma vez, mas agora diante de um novo posicionamento. Com mais paixão e entrega à maternidade. Mais intensidade.

E assim que busquei meu caminho para um parto diferente. O do Vítor foi normal, mas com diversas interferências que nunca tinha ousado questionar. Tricotomia, lavagem intestinal, fórceps e episiotomia. Um monte de palavra feia colocada diante de mim como “rotina”. Tudo devidamente aceito simplesmente por eu jamais ter pensado que faria diferença. E fez. Muita.

Fez diferença quando eu me dei conta que entreguei meu primeiro parto para o fórceps. Hoje consigo perceber que faltou justamente o que procuro agora: entrega. Desde a gravidez eu não conseguia me entregar ao fato de que seria mãe (por N motivos). Não que eu não estivesse feliz, porém faltava uma série de coisas para que talvez eu me sentisse mais segura (fatores emocionais e práticos mesmo, como estabilidade financeira). Sem dúvida, isso tudo teve influência no parto do Vítor e no modo como eu vivi aquele momento.

***

Depois de refletir sobre as marcas que ficaram da minha primeira experiência surgiu a vontade e a necessidade de fazer diferente. Assim, busquei informação, questionei, fui atrás. Tenho que destacar que minha médica (a mesma que acompanhou a gravidez e o nascimento do Vítor) entendeu minha nova posição e foi uma grande parceira durante todo processo.

***

E então… vamos ao parto da Clara.

Eu estava grávida de 39 semanas, mas desde a 37ª preparada para o “qualquer hora”, pois tinha 7 centímetros de dilatação.

No feriado de 7 de setembro o Vítor acordou um pouco antes das 10h e veio para nossa cama. Ficamos em família, curtindo a preguiça. Planejamos o que faríamos durante o dia. Depois, nos arrumamos e fomos dar uma volta com o Dexter.

Durante a caminhada comecei a sentir um pouco de dor. Passamos na frente do hospital e o Fábio até brincou que eu já podia ficar por ali mesmo. Seguimos enquanto a dor aumentava. Comentei que a gente deveria ir um pouco mais rápido, para conseguir chegar logo em casa.

Quando chegamos eu disse que ia falar a médica. Ela não atendeu o celular e liguei para o número residencial. O marido disse que ela estava no hospital. Conversei com o Fábio e resolvemos ir direto para lá. Arrumei as coisas do Vítor e minha mãe o buscou.

Enquanto eu ia de um lado para o outro só pensava: “Minha filha vai nascer”. Era nisso que eu queria focar, sem pensar em dor ou qualquer outra coisa. Fui para o banheiro e ficava me contorcendo entre uma contração e outra. Fábio levou as bolsas para o carro e fomos para o hospital.

Na recepção do hospital demoraram para nos atender. Eu estava impaciente e disse para o Fábio que ia subir para a maternidade sozinha (a louca!). Abri a porta e segui até o elevador, gemendo. Como não sabia em que andar era o centro obstétrico, apertei em todos os botões. Pelo caminho dois enfermeiros me acharam e seguiram comigo até o lugar certo.

Quando fui para a sala de pré-parto a bolsa rompeu. Uma enfermeira me ajudou a deitar e fez um toque: 10 centímetros. Correria e mudança de sala. Antes de sentar na cama senti vontade de fazer força (e fiz). Uma enfermeira veio e colocou a mão embaixo das minhas pernas, como se tivesse medo que o bebê fosse cair ali mesmo.

Fiquei semi-sentada na cama e uma médica conhecida que estava na maternidade para ver uma paciente começou a se preparar para o parto, pois a minha obstetra estava no centro cirúrgico. Fui fazendo o que meu corpo mandava, sem pensar, me entregando ao momento.

Minha médica chegou e lembro de ter perguntado pelo Fábio. Uma enfermeira avisou que ele estava subindo. Pena que não deu tempo dele chegar. Clara nasceu ali, no terceiro empurrão que eu fiz. Deslizou do meu corpo para a vida através da minha própria força. Senti cada pedacinho dela saindo. Uma sensação incrível, que não tive no parto do Vítor e jamais vou esquecer.

Foi tudo muito rápido e intenso. Assim que ela nasceu, veio para meu colo e a coloquei no seio. Sugou com força enquanto procurava com o olhar o meu rosto. Fábio chegou e compartilhou com a gente aquele momento de paz, de plenitude. E do mesmo jeito seguimos… vivendo toda entrega que a maternidade e a paternidade nos exige, de uma forma tão natural e apaixonante quanto naquele dia. Única.

Meu (re)nascimento materno


A Clara nasceu no dia 7 de setembro, às 11h21min. Linda, serena e corada. Com 3,710 quilos e 49,5 cm, em um parto normal emocionante.

Volto em breve com as novidades dos últimos dias. Quem quiser notícias extras da gente pode curtir a página do blog no Facebook e acompanhar lá um pouquinho mais da vida do agora projeto de mãe de dois.

Beijos!

O fim

A espera pela Clara tem sido marcada por uma serenidade única. Obviamente, estou na expectativa pelo nascimento, mas é tão diferente da primeira vez…

No final da gravidez do Vítor eu estava insuportável, tanto que quase optei por induzir o parto um dia antes dele resolver nascer. Hoje, apenas agradeço por não ter deixado a ansiedade tomar conta e ter seguido minha intuição de esperar.

Espera que agora passa num ritmo até rápido demais. Tenho uma lista de coisas para fazer, para passar o tempo e deixar tudo em dia. No entanto, vejo que não vou conseguir vencer tópico por tópico, isso que nem é tanta coisa assim.

Acontece que tenho me permitido curtir o momento atual, sem muita neura. Vítor teve virose na última semana e aproveitei para ficar com ele. Quando o pequeno melhorou e voltou para a escola eu me dei o luxo de dormir uma tarde inteirinha (vejam bem, sozinha em casa, sem barulho nenhum, um verdadeiro luxo para qualquer mãe!).

Então assim vamos indo, um dia de cada vez. Curtindo o fim. Fim da gravidez, da vida de mãe de um, de uma fase familiar incrível que foi a chegada do nosso primeiro filho. Vamos ver se o próximo post já não vai ser de começo…

“O fim é lindo. Do crepúsculo, de uma vela, de uma chuva. O fim é esperançoso, exigente. Pancadas de beleza. O som e o sol pulam como um suicida ao avesso para dentro da vida” (Carpinejar)

Meu caminho para um parto humanizado

Meu caminho para um parto humanizado teve início dentro de casa, com a minha família. Minha mãe teve três partos normais e esta passou a ser a minha referência, sempre foi o natural e automático, sem muitas reflexões.

Quando engravidei do Vítor comecei a ficar mais curiosa sobre o assunto. Busquei saber como era exatamente, como identificar o trabalho de parto, tudo que envolvia a hora do nascimento. Olhei diversos vídeos na internet, li uma centena de relatos em blogs. Sempre de parto normal, como se fosse a única possibilidade.

Já com cerca de 30 semana comecei a ter dilatação, o que reforçava a minha certeza interior de um parto normal. De fato a natureza foi muito generosa comigo. A bolsa estourou quando estava em casa, em um domingo à noite, e um pouco mais de uma hora depois estava com meu filho nos braços.

Apesar do parto normal do Vítor, a minha primeira experiência me mostrou muitas coisas. Foi incrível ver meu filho nascer através da minha própria força. Tive a convicção que precisava sentir tudo isso mais uma vez. No entanto, algumas coisas me marcaram, como o uso do fórceps e a episio. Marcaram meu corpo e minha alma. Fizeram eu perceber que em uma segunda vez tinha que ser diferente.

Logo que descobri a segunda gravidez comecei a trilhar um novo caminho, desta vez rumo ao parto humanizado. Mais do que nunca, busquei na informação toda a base necessária.

A maternidade me abriu os olhos e o coração. Agora posso dizer que estou preparada para me fortalecer na minha escolha: trazer a Clara ao mundo em um ambiente seguro, confortável, acolhedor. Um local onde nós duas, mãe e filha, sejamos respeitadas. Quero evitar todo e qualquer procedimento desnecessário, tanto em mim quanto nela. Mas quero, acima de tudo, sentir cada momento do nascer, da vida chegando de dentro de mim, de forma avassaladora, pura, natural. Que assim seja.

O medo do desconhecido

Acompanhem o meu raciocínio.

Mulheres que nunca passaram por um parto normal nem por uma cesárea estão rumo ao desconhecido, certo? É natural sentir medo do desconhecido, pois ele é incerto, pode deixar as pessoas inseguras. Em uma grávida, este contexto ainda envolve uma centenas de hormônios e muita ansiedade, pois o parto é como se fosse um portal. Se existe período AC e DC (antes e depois de Cristo), certamente existe o AM e DM (antes e depois da maternidade). Fato.

Além disso, o desconhecido do parto envolve dor. Seja parto normal ou cesárea vai ter dor. É outro fato. O normal pelas contrações, o trabalho de parto e o expulsivo. A cesárea por ser um procedimento cirúrgico e que possui todo um pós-operatório.

Chegamos até aqui a duas conclusões: a pessoa vai passar por algo que é desconhecido e que vai ter dor.

Agora entra a minha conclusão: como uma mulher escolhe (veja bem,  estou me referindo ao parto como escolha, quando não existe indicação médica específica) entre parto normal e cesára justificando ter medo de sentir dor? Não faz o menor sentido na minha cabeça. Ninguém consegue dimensionar uma dor que nunca sentiu para escolher entre um procedimento ou outro. Parece algo como aquelas perguntas duvidosas: “Você prefere morrer queimado ou afogado?”. Como assim, gente???

* Texto inspirado no último post da Ilana, do blog 1 + 1 são três.

Sobre a dor do parto

Li para uma disciplina do mestrado o livro Memória, de Iván Izquierdo. Na página 66 o autor cita a ocitocina, principal hormônio do parto e que age sobre o útero. Separei um pedaço que achei interessante:

“..mas também afeta direta e indiretamente neurônios de amígdala, provocando sua inibição e tendo, […], um efeito amnésico. Lembremos aqui que os partos costumam ser dolorosos, e não obstante isso, as fêmeas de numerosas espécies, as mulheres, por exemplo, costumam ter vários filhos e não se lembram da dor real que representou cada parto. Lembram-se das circunstâncias da dor, do fato de que houve muita dor, mas não da dor em si. A dor é uma das poucas coisas emocionalmente importantes que não pode ser evocada em sua verdadeira intensidade”.

Minha mãe uma vez me disse, antes do Vítor nascer, que a gente esquece a dor do parto e só lembra quando chega a hora de parir de novo, que daí vem aquele pensamento: “O que eu fui fazer?”, o típico “Oops, I did it again”. Palavra de quem teve três filhos, todos de parto normal.

Eu acredito, né? Até porque se a gente não esquecesse da dor… jamais teria o segundo filho (pelo menos de parto normal)!

A natureza é muito sábia!

A coluna do meio

Acompanhei alguns posts (aqui e aqui, por exemplo) que repercutiram a entrevista da filósofa francesa Elisabeth Badinter nas páginas amarelas da Veja do dia 20 de julho. Ela defende que a mãe perfeita é um mito. Na entrevista Elisabeth declara:

“Movidos por ideologias as mais variadas, feministas, ecologistas e intelectuais que eu combato tratam de sedimentar no caldo cultural do século XXI a idéia de que, uma vez mãe, a mulher deve enquadrar-se em um modelo único, obedecendo a dogmas que, de tão atrasados, sepultam os avanços mais básicos trazidos pela industrialização. Estou falando de pessoas que torcem o nariz para as cesarianas e chegam a fazer apologias do parto sem anestesia, sob o argumento de que há beleza no sacrifício feito em nome dos filhos já no primeiro ato. Demonizam o uso da mamadeira e até o da fralda descartável. Para essa gente, as mães nunca devem estar indispostas para suprir as necessidades de sua prole. Essa pressão só causa frsutração e culpa nas mulheres.”

Percebi opiniões de um lado e de outro na blogosfera materna. Mas o texto que mais chamou a minha atenção foi o da Carol Passuello, do blog Vinhos, viagens, uma vida comum… e dois bebês!, com o título “tem que” nada.

A Carol questiona a existência de uma coluna do meio, um espaço onde é possível circular entre as diferentes ideias quando o assunto é maternidade.

Eu penso que existe sim esse espaço, no entanto talvez ele fiquei ofuscado com tantas “bandeiras”. Parto normal X Cesárea. Amamentação X Complemento. Consumo X Sustentabilidade. Uma coisa ou outra. A turma do meio acaba sufocada com tanta opinião.

O Vítor nasceu de parto normal, mas quase cedi a uma indução por ansiedade (e assim passei a entender as mães que acabam optando por uma cesárea). Amamento com todo amor, porém sinto falta da liberdade de ter um dia só pra mim, sair para trabalhar sem me preocupar com a hora que meu filho vai sentir fome. O pequeno tem carrinho, bebê conforto, cadeirão e diversas roupas de segunda mão. Entretanto, também gosto de marcas e já comprei para ele coisas da Gap, Adidas e Puma.

Não me considero contraditória, apenas vivo a minha maternidade real. Uma maternidade feita de escolhas conscientes e de liberdade. Espaço para errar, para acertar, para mudar de opinião quantas vezes eu quiser. Tudo por amor. Amor pelo meu filho, meu marido e minha família. Amor por mim.

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